Resiliente Estrangeiro

Um poema e uma música

Kalew Nicholas
palavra falada

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Odiar uma substância
não me afasta da dependência.
Mude, mas comece devagar?
Quero, não devia — sentença.
Cresci sem endereço fixo,
de amigos nenhum círculo,
com parentes nenhum vínculo -
e sem sofrer essa vivência.
Cão de rua não sabe, mas há
cães com casa e Pedigree.
Foi na última semana
que extraí o ônus que vivi.
Tenho uns amigos casados,
uns com filhos, mesmo CEP,
e até prejudicados
têm raízes e sementes.
Eu, singularizando semestres,
creio depender da mudança —
já morei com pai e mãe,
só meu pai, minha avó,
tias e primos, vó e vôdrasto,
pai e madrasta, só a bisavó,
há semanas que moro com amigos,
quase sempre eu moro só.
Três estados, sete cidades,
me pergunto qual é melhor:
quatro mil habitantes ou
sete milhões ao meu redor?
Me adaptei a todas
sem gostar ou odiar nenhuma.
Na permanência, sou iniciante.
Mudo esperando o marasmo
e nessa espera expectante
minha mudança é pleonasmo.
Polui tudo que sou,
mas dura pra sempre — tipo plástico.
É por isso que eu me apego tão rápido
e engulo tão fácil ruptura e abandono.
Quando não digiro, clara e salgada
por meses a fio, como fosse normal.

Sigo me orgulhando da resiliência,
mesmo sabendo que ela me faz tão mal.

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Kalew Nicholas
palavra falada

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